Medicina de Precisão: dra. Iscia Lopes Cendes, do CEPID BRAINN, participa de webinário da Academia Brasileira de Ciências


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Pesquisadora do BRAINN detalhou o que é Medicina de Precisão e quais são os avanços da área no Brasil e no mundo.

14 de setembro de 2020  | por Redação WebContent

Durante a pandemia da COVID-19, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) – uma das mais importantes e influentes agremiações de cientistas do país – tem realizado reuniões virtuais, abertas ao público, para discutir avanços científicos nos mais diversos temas. Recentemente, a Medicina de Precisão foi o foco de uma dessas reuniões. A pesquisadora Iscia Lopes Cendes, membro do CEPID BRAINN e do Comitê Gestor da Iniciativa Brasileira de Medicina de Precisão, participou da transmissão, apresentando um panorama dessa nova área da Medicina tanto no Brasil quanto no mundo.

Assista ao webinário completo no Facebook

 

Perfil: Dra. Iscia Lopes Cendes

brainn iscia lopes cendesMembro titular da ABC e da Aciesp. Formada em medicina, é professora titular da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde atualmente chefia o Laboratório de Genética Molecular, na Faculdade de Ciências Médicas.

É pesquisadora principal do Instituto Brasileiro de Neurociência e Neurotecnologia (CEPID BRAINN) e é membro do Comitê Gestor da Iniciativa Brasileira de Medicina de Precisão. No webinário da ABC, a dra. Iscia tratou da implementação desta prática no Brasil.

 

O QUE É A MEDICINA DE PRECISÃO?

A ABC definiu Medicina de Precisão da seguinte maneira:

“Medicina de precisão é a medicina personalizada. Além dos dados básicos do paciente utilizados pela medicina convencional, ela trabalha também com o perfil genético específico do indivíduo. As vantagens são muitas, tanto para o paciente quanto para o médico e para as indústrias da área de saúde”.

De fato, a Medicina de Precisão implica, como o próprio nome parece sugerir, em tratamentos personalizados, mais “precisos”, baseado em características genéticas específicas de cada indivíduo. Todavia, para que isso ocorra, é necessário que, antes, um volume vastíssimo de informações genéticas e médicas, vindas de várias populações e grupos diferentes, tenha sido coletado, analisado e devidamente processado. Este é o principal enfoque da Medicina de Precisão.

Big data na ciência

De acordo com a dra. Iscia, a Medicina de Precisão abrange, hoje, quatro grandes conceitos principais, que ajudam a entender suas diretrizes:

  • BIG DATA: o trabalho da Medicina de Precisão envolve a coleta, análise e interpretação de grandes volumes de dados médicos e científicos, oriundos de estudos amplos, com diversos grupos diferentes. Apenas com os avanços no mundo digital das últimas décadas é que este tipo de trabalho pode ser realizado;
  • DIGITAL HEALTH: uso de biossensores e demais equipamentos que permitam a obtenção de dados de saúde em formato digital e em grande quantidade;
  • DATA SCIENCE: desenvolvimento de novos protocolos para aquisição, organização, integração e análise desses grandes volumes de dados;
  • OPEN SCIENCE: criação de soluções em armazenamento, segurança, acesso, organização, visualização e compartilhamento dos dados.

Ou seja, a Medicina de Precisão difere da Medicina tradicional pois não se limita a estudos clínicos, buscando integrar o conhecimento de diversas outras áreas do conhecimento – especialmente àquelas ligadas à genética e à análise massiva de dados de saúde (seja de pacientes, seja de populações saudáveis ou modelos experimentais) – na criação de bases gerais de conhecimentos da saúde humana. A partir delas, os profissionais de saúde poderão chegar a conclusões pontuais, específicas, sobre os tratamentos individuais dos pacientes.

O National Research Council dos Estados Unidos explica assim (a ênfase no texto é nossa): “Medicina de precisão refere-se à adaptação do tratamento médico às características individuais de cada paciente. Não significa, literalmente, a criação de drogas ou dispositivos médicos únicos para um paciente, mas sim a capacidade de classificar os indivíduos em subpopulações que diferem em sua susceptibilidade a uma determinada doença, na biologia e/ou prognóstico dessas doenças ou em sua resposta a um tratamento específico. As intervenções preventivas ou terapêuticas podem, então, se concentrar naqueles que se beneficiarão [com os tratamentos]; poupam-se, assim, custos e efeitos colaterais para aqueles que não se beneficiarão”.

 

MEDICINA DE PRECISÃO NO BRASIL

Apesar de ser um tema relativamente recente – ela começou a ser discutida apenas no início da década de 2010, e ganhou real relevância a partir de 2015, com o lançamento, nos Estados Unidos, do programa “Iniciativa da Medicina de Precisão” –, a Medicina de Precisão já está em plena atividade aqui no Brasil.

Clique aqui para acessar o vídeo.

 

Desde março de 2019, uma portaria do Ministério da Saúde determinou o uso do sequenciamento do exoma (isto é, da parte codificante do genoma de um indivíduo) no estudo da deficiência intelectual de causa indeterminada – e isso no âmbito do Sistema Único de Saúde. Para tanto, o Ministério levou em consideração os resultados de estudos de custo-benefício que revelaram as diversas vantagens da implementação desses exames no SUS.

“Hoje em dia, realizar exames (como o de exoma) não é mais tão problemático em termos de custo e nem de tecnologia, mas sim de análise dos resultados”, explicou Iscia.

Foi um primeiro passo – que, felizmente, não parou por aí. Uma nova portaria do Ministério da Saúde, de agosto deste ano, instituiu o Programa Nacional de Genômica e Saúde de Precisão – Genomas Brasil e o Conselho Deliberativo do Programa Genomas Brasil. Segundo o documento, a meta do programa é incentivar o desenvolvimento científico e tecnológico nacional nas áreas de genômica e saúde de precisão, promover o desenvolvimento da indústria genômica nacional e estabelecer prova de conceito para uma linha de cuidado em genômica e saúde de precisão no âmbito do SUS. Ou seja, teoria e prática unidas para o avanço da Medicina de Precisão no país.

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“(…) o Brasil passa a ser o primeiro país da América Latina a ter uma diretriz específica voltada à Medicina de Precisão”

Com essa portaria, o Brasil passa a ser o primeiro país da América Latina a ter uma diretriz específica voltada à Medicina de Precisão, o que é interessante tanto para o país quanto para o avanço da área em todo o mundo. Afinal, o Brasil, por causa dos trabalhos do SUS, é o maior fornecedor global de informações de saúde no mundo em termos de volume de dados. Como vimos acima, analisar estes vastos volumes de informação é essencial para a Medicina de Precisão.

Além disso, ter políticas públicas voltadas à Medicina de Precisão abra portas para novas colaborações internacionais com outros países e grupos de pesquisa, também essenciais na captação e no compartilhamento de grandes quantidades de dados médicos e científicos.

A Medicina de Precisão ainda é vista como uma área do conhecimento em que apenas países mais desenvolvidos atuam. No geral, é uma visão realista. Mas o interesse brasileiro no tema e o potencial de utilização do sistema público de saúde em estudos populacionais podem catapultar o envolvimento do país no cenário global, tornando-o uma fonte primordial de informações e transformando o Brasil em pioneiro no estudo da implementação de políticas públicas em países em desenvolvimento.

No papel, as portarias e diretrizes já existem, e esse é um ótimo sinal. Agora, elas precisam ser, de fato, implementadas. “Se não existir envolvimento real do Estado, do Ministério da Saúde, nada disso se transforma em práticas efetivas”, explicou Iscia.

 

O BIPMED

Além das políticas públicas, o Brasil já é destaque internacional no compartilhamento de informações genéticas da população – parte essencial dos estudos de Medicina de Precisão. Grande prova disso é o sucesso do BIPMED – o Brazilian Initiative on Precision Medicine, uma iniciativa de cinco CEPIDs Fapesp, inclusive do BRAINN, e da qual a dra Iscia é membro do Comitê Diretivo.

Dados do BIPMed já foram utilizados para traçar um panorama da ancestralidade genômica dos brasileiros. Na imagem, os gráficos ilustram os dados de ancestralidade global (barras verticais) e local (barras horizontais) nos 22 cromossomos autossômicos de dois indivíduos que integram a população-referência de Campinas. Os blocos azuis representam o componente ancestral europeu, os vermelhos, o componente africano, e os verdes, o componente nativo-americano. Apesar da distribuição da ancestralidade global ser semelhante entre os indivíduos, a distribuição desses blocos ancestrais dentro de cada cromossomo é diferente. Saiba mais.

 

Lançado em 2015 de maneira modesta, com dados obtidos por meio do sequenciamento completo do exoma de apenas 29 pessoas de Campinas (SP), em meros três anos o BIPMED já possuía mais de 800 registros, de 350 indivíduos, tanto de pessoas sem patologias associadas quanto de pacientes de doenças como epilepsia, esclerose e câncer. Atualmente, a iniciativa já é responsável por 03 dos 06 maiores bancos de dados genéticos na plataforma Leiden Open Variation Database, um dos principais repositórios de informações genéticas do mundo.

Para saber mais sobre o BIPMED, acesse a página especial sobre a iniciativa no website do BRAINN.

 

LINKS

Assista ao seminário completo em:

Saiba mais:

 


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