Como o vírus da COVID-19 afeta as células do cérebro? BRAINN participa de estudo pioneiro


CEPID BRAINN - Publicacao COVID-19 na PNAS - astrocitos
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Estudo realizado por pesquisadores brasileiros e publicado na PNAS descreve como o SARS-CoV-2 afeta os astrócitos e, consequentemente, os neurônios no cérebro humano.

19 de agosto de 2022  | por Redação WebContent

Parece não haver limites para os ‘estragos’ que o vírus da COVID-19 causa no corpo humano. Perda de olfato, paladar, problemas respiratórios, problemas de pele – a lista de áreas e órgãos afetados pela doença é ampla. Mas dentre todos estes efeitos negativos da COVID, talvez os mais preocupantes sejam os neurológicos. Cerca de 30% das pessoas que tiveram a doença relatam algum problema desse tipo, que pode variar de cansaço extremo a dificuldades de concentração e de memória. Eles podem durar por meses após a cura da COVID, e parecem afetar tanto quem teve a forma severa quanto formas mais leves da doença.

Uma nova pesquisa de alto impacto, conduzida por pesquisadores brasileiros e que contou com a participação do CEPID BRAINN, pode trazer respostas aos mistérios da COVID-19 no cérebro.

O estudo “Morphological, cellular, and molecular basis of brain infection in COVID-19 patients“, realizado por pesquisadores da USP, Unicamp e UFRJ, contou com a participação dos pesquisadores do CEPID BRAINN (dr. Fernando Cendes, dra. Clarissa Yasuda, dr. Andre Schwambach Vieira e colegas) e foi publicado recentemente no prestigiado Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), uma das 15 mais importantes publicações científicas do mundo.

 

QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS EFEITOS DE LONGA DURAÇÃO DA COVID NO CORPO?

Normalmente, pessoas infectadas pela COVID-19 melhoram em menos de 04 semanas. Em alguns casos, porém, os sintomas da doença podem persistir por vários meses, e até mesmo sumir e ressurgir meses depois – trata-se da chamada ‘COVID longa’, fenômeno ainda sendo estudado e compreendido por médicos e pesquisadores. Os sintomas neurológicos são alguns dos mais frequentes nestes casos.

Dentre os principais sintomas associados à COVID longa estão:

  • Cansaço mental e fadiga corporal
  • Dificuldade de concentração
  • Ansiedade e sinais de depressão
  • Problemas para dormir
  • Alterações na percepção de aroma ou sabor
  • Febre
  • Dores no peito, palpitações e/ou dificuldade para respirar
  • Diarreia, dores estomacais
  • Dores nas articulações e músculos,
  • Problemas de pele
  • Alterações no ciclo menstrual

 

ESTUDO DESCREVE AÇÃO DO SARS-COV-2- NOS ASTRÓCITOS – E COMO ISSO PODE IMPACTAR A SAÚDE DOS INFECTADOS

O novo estudo identificou a presença do vírus da COVID-19 (chamado de SARS-CoV-2) em células cerebrais conhecidas como astrócitos. Os astrócitos são parte essencial da estrutura do cérebro, auxiliando em diversas funções como regulação do fluxo sanguíneo, manutenção da barreira hematoencefálica e distribuição de nutrientes ao tecido nervoso. A função mais conhecida dos astrócitos é a de serem “células de suporte” aos neurônios, fornecendo energia para que eles funcionem corretamente. É justamente neste ponto que os efeitos do SARS-CoV-2 parecem ser mais impactantes.

Os pesquisadores descrevem, no estudo, uma potencial maneira como o vírus da COVID acaba por prejudicar as funções cerebrais. O trabalho indica que os astrócitos podem ser as principais “vítimas” do vírus no sistema nervoso. Uma vez infectados pelo SARS-CoV-2, os astrócitos apresentam alterações importantes em seu funcionamento, como mudanças no metabolismo energético, em proteínas e metabólitos essenciais ao suporte de neurônios e na síntese de neurotransmissores.

O trabalho indica que os astrócitos podem ser as principais “vítimas” do vírus da COVID-19 no sistema nervoso

Tais modificações no funcionamento dos astrócitos, descritas pela primeira vez no artigo, impactam negativamente os neurônios a eles associados. A pesquisa indica que os astrócitos infectados produzem menos substâncias que permitem a viabilidade dos neurônios; sem elas, as chances dos neurônios morrerem ou não funcionarem corretamente aumentam. Astrócitos infectados até mesmo secretam moléculas ainda não identificadas que induzem a morte neuronal.

Tais consequências, de altíssima relevância, podem explicar os efeitos do novo coronavírus no cérebro das pessoas afetadas pela doença, assim como lançar luz sobre as causas da COVID longa. Potencialmente, os resultados do estudo podem orientar novas pesquisas médicas sobre como diminuir ou reverter os efeitos neurológicos da COVID.

 

O trabalho, pioneiro ao explicar uma maneira como o vírus da COVID-19 pode atacar o sistema nervoso central humano, está rapidamente ganhando notoriedade nacional e internacional. Desde sua publicação online esta semana, já foi baixado mais de 10 mil vezes e divulgado em veículos de comunicação científica do Brasil, Estados Unidos, Espanha, Suíça, Alemanha e Rússia. Encontre abaixo o link para o artigo, que está disponível integralmente e sem restrições de acesso, no website da PNAS.

 

PARA SABER MAIS

  • Título: Morphological, cellular, and molecular basis of brain infection in COVID-19 patients.
  • Autores: Fernanda Crunfli , Victor C. Carregari, Flavio P. Veras, Daniel Martins-de-Souza et al.
  • Publicação: Proceedings of the National Academy of Sciences Vol. 119 | No. 35, August 30, 2022.
  • Link: https://www.pnas.org/doi/10.1073/pnas.2200960119

 


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