O que é esse tal de Lean Healthcare? Li Li Min, do CEPID BRAINN, explica a Gestão do Pensamento Enxuto na área da saúde


BRAINN - Li Li Min e Lean Healthcare
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Matéria da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp traz entrevista com pesquisador do CEPID BRAINN sobre o método Lean aplicado na área da saúde.

05 de julho de 2019  | originalmente publicado no website da FCM / Unicamp

“Aos poucos, é possível mudar a rotina de trabalho de modo significativo, sem que seja necessário demitir pessoas”, afirma o docente do Departamento de Neurologia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, Li Li Min, sobre a tônica do livro O que é esse tal de Lean Healthcare?. A publicação, também assinada pelos especialistas em Gestão em Saúde, Alice Sarantopoulos, Gabriela Salim Spagnol e Robison D. Calado, teve a 2ª edição recentemente publicada pela Editora ADCiência.

Modelo de gestão administrativa dominante no setor automobilístico e aeroespacial, o Lean tem sido cada vez mais utilizado na gestão dos serviços de saúde, daí o seu desdobramento para o Healhcare (do inglês, Cuidado em Saúde).

“Se, antigamente, as pessoas eram céticas em relação à adoção do Lean na área da saúde, na atualidade, muitas compreendem que algo precisa ser feito, com urgência, do ponto de vista organizacional, para conter a crise no sistema”, comenta Li, especialista nesse tipo modelo de gestão também conhecido por Gestão do Pensamento Enxuto.

Imagem: FCM / Unicamp

 

“Diz-se ‘pensamento enxuto’ porque o custo de implementação dessa ferramenta é praticamente zero”, esclarece Li, destacando a busca incessante do Lean, “quase obsessiva”, de eliminar os desperdícios. “Não se trata de acender e apagar a luz ou reduzir o consumo do café dos trabalhadores, mas de olhar para outras questões do dia a dia que impactam sobre a organização e que nós, geralmente, não nos damos conta”.

Professores que imprimem provas em excesso e restaurantes que produzem comida além do necessário estão entre os exemplos de desperdícios que o Lean, de acordo com o pesquisador da FCM, classifica como desperdícios de superprodução. Todavia, eles não param por aí. “Ninguém consegue estocar o tempo e essa é outra dimensão de desperdício que o método de gestão Lean leva em conta, dentre outros”, comenta o pesquisador, exemplificando:

“Quando você precisa de um médico, primeiro é preciso ajustar o seu tempo ao tempo deste profissional. Na hora marcada, você chega para a consulta, senta e espera. Lê todas as revistas de celebridades de três anos atrás e aprende quatro receitas na televisão. Quando, finalmente, entra na sala do consultório, recebe um atendimento de cinco minutos. O que aconteceu? O que você queria não era o atendimento médico? Então porque precisou pagar por todo esse período do qual você não estava disposto a pagar? Então por que marcar uma hora, se você não é atendido na hora? Esse é um tempo totalmente desperdiçado do ponto de vista do paciente”.

O docente da FCM também fala sobre o desperdício de movimento. “Pensemos nos profissionais médicos. Alguns chegam a caminhar até 8 km por plantão. Estamos falando de quase uma hora sem que ele esteja junto de seus pacientes. Isso é um indicativo de que os processos de trabalho estão desenhados da maneira incorreta, com desperdício de tempo e movimento do trabalhador”, analisa Li.

No contexto de administração dos serviços de saúde, o pesquisador argumenta que um desperdício muito comum tem a ver com o preenchimento de documentos. “Se existe um índice muito alto de devolução de documentos preenchidos incorretamente, isso pode ser um indicador importante para que a organização reveja tais documentos em sua origem, porque algo neles não está claro. Um documento preenchido errado é desperdício de tempo. Na área médica, significa que o paciente precisará retornar ao consultório para pegar outra assinatura, fazer novos telefonemas e agendamentos, esperar novamente na sala de espera e assim por diante. Situações assim, hoje em dia, estão tão naturalizadas, que as pessoas nem ficam mais indignadas”.

 

Pessoas e Processos

Imagem: FCM / Unicamp

Da produção primitiva artesanal e artística, ao desenvolvimento dos métodos de trabalho, passando pela produção seriada e em larga escala à filosofia sociotécnica focada em desenvolvimento humano e melhoria de processos. Para Li, muitas foram as contribuições dos diferentes métodos e filosofias de gestão organizacional até o desenvolvimento do Lean, na atualidade, e que além de enxugar os desperdícios, busca mecanismos de gestão que favoreçam a melhoria contínua das pessoas e dos processos de trabalho, no ambiente organizacional.

“É preciso deixar claro que quando falamos em respeito às pessoas, não estamos falando em dizer bom dia e boa tarde, nem passar a mão na cabeça de ninguém, mas de compreender que o ser humano pode ser desenvolvido em todas as suas potencialidades, com senso de responsabilidade e autonomia para ir além da rotina estaque de trabalho, ainda que com certas limitações. Uma empresa cresce, na medida em que os seus colaboradores também crescem”.

Trabalho em equipe. “No Lean Healthcare – explica Li – não há espaço para heróis. O nosso atual sistema organizacional está repleto de heróis, pessoas que apagam incêndios o tempo todo, ou que são especialistas em determinadas tarefas. Do ponto de vista organizacional isso é muito ruim, pois não há o senso de equipe, pois a empresa não trabalha de maneira harmoniosa. Há os desequilíbrios e a ideia de que algumas pessoas trabalham mais do que outras”.

Facilitar, melhorar, agilizar e baratear são os motivos principais de uma organização para rever os seus processos. A redução de custos, em geral, é a frente mais atacada, muito embora a implementação das etapas anteriores acabe resultando na redução dos custos.

“Em momentos de crise, para preservar o lucro, as empresas cortam as pessoas. Essa é uma ideia equivocada porque sem o CPF não há o CNPJ. Se a empresa atua sob a perspectiva do Lean, ao invés de demitir os trabalhadores, ela irá focar na redução dos desperdícios, revendo os processos que estão com a torneira aberta”.

Empresas de excelência operacional são aquelas que apostam na melhoria dos processos, transformando o tempo que os funcionários utilizam para apagar incêndios em tempos de criatividade, inovação e melhoria, afirma o pesquisador.

“Empresas que fazem isso são empresas de excelência operacional. Quando é que as equipes têm tempo de parar o que estão fazendo para pensar a sua rotina de trabalho, rever procedimentos, participar de atividades de melhoria profissional, de ócio criativo, de lazer ou de atividade física que favoreçam a saúde mental? O tempo é um bem muito caro”, conclui Li, sobre a publicação.

 

Serviço

Livro: O que é esse tal de Lean Healthcare?
2ª edição (revista e ampliada)
Editora: ADCiência
$$$: gratuito


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