Voz da mãe ‘ativa’ as mais diversas regiões do cérebro, aponta pesquisa


como nosso cerebro responde a voz da mãe
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Estudo pioneiro utilizou ressonância magnética para analisar como o cérebro responde ao som da voz de nossas mães.

 

Dezenas de estudos neurológicos realizados nas últimas décadas confirmaram uma suspeita de muitas mamães: o som de sua voz afeta os filhos de maneira diferente do som da voz de outras mulheres. Mais especificamente, sabe-se que o som da voz da própria mãe ativa regiões do cérebro relacionados à audição – é como se o cérebro ‘prestasse mais atenção’ aos sons quando a mãe está falando.

É como se o cérebro ficasse ainda mais ‘alerta’, processando um grande número de informações sensoriais, quando ouvimos nossa mãe falar.

Agora, um estudo inédito, utilizando ressonância magnética, mostra que a voz materna tem influência direta e poderosa nas mais diversas regiões do cérebro dos filhos, não apenas naquelas relacionadas ao ouvir.

“Muitos de nossos processos sociais, linguísticos e emocionais são aprendidos ao ouvirmos a voz de nossas mães”, explicou Daniel Abrams, pesquisador em psiquiatria e ciências do comportamento e principal autor do trabalho. “Todavia, surpreendentemente, pouco se sabe sobre como o cérebro se organiza a partir dessa fonte sonora tão importante”.

 

CÉREBRO ‘LIGADÃO’ NA VOZ DA MÃE

O estudo utilizou a técnica de ressonância magnética (saiba mais sobre a ressonância – uma das tecnologias utilizadas pelos pesquisadores do BRAINN – neste texto) para estudar o cérebro de crianças de 7 a 12 anos.

Os resultados mostraram que a voz da própria mãe ativa regiões cerebrais relacionadas ao processamento de emoções, a funções sociais, reconhecimento de faces e detecção do que é relevante à pessoa – além, é claro, de regiões ligadas à audição, como o córtex auditivo primário.

“Nós não sabíamos que a voz da mãe teria acesso tão rápido a sistemas cerebrais tão diferentes”

O resultado surpreendeu os pesquisadores. “Nós não sabíamos que a voz da mãe teria acesso tão rápido a sistemas cerebrais tão diferentes”, disse Daniel. “A extensão das regiões cerebrais que foram ativadas foi bastante impressionante”, escreveu outro co-autor do trabalho.

 

 

QUANDO A MÃE FALA, É MELHOR PRESTAR ATENÇÃO – E RÁPIDO!

A ressonância magnética foi utilizada para ‘enxergar’ o cérebro dos jovens enquanto ouviam a voz da própria mãe.

No estudo, os cientistas analisaram os cérebros de 24 crianças. Tanto as suas mães biológicas quanto outras mães, que nunca haviam entrado em contato com as crianças, gravaram pequenos trechos de áudio. Nas gravações, as mães leem palavras sem qualquer sentido, que não querem dizer nada. O importante, nesse estudo, era estudar o som da voz, e não o que elas estavam dizendo.

“Nessa faixa etária, na qual a maioria das crianças já possui boas habilidades de linguagem, nós não queríamos usar palavras que tivessem significado, porque isso iria ativar um circuito cerebral completamente diferente”, explicou o pesquisador Vinod Menon, também autor do trabalho científico.

Um primeiro dado que deixou os pesquisadores impressionados foi que as crianças foram capazes de identificar o som da voz da própria mãe muito rapidamente – e acertaram quase todas as vezes. Em menos de um segundo, elas já sabiam que era a mãe biológica dizendo as palavras sem sentido. Apesar dessa velocidade, o índice de acerto foi de incríveis 97%.

Enquanto ouviam o som das gravações, seus cérebros eram analisados através da ressonância magnética. A técnica permitiu detectar as regiões mais ativas do órgão, em tempo real, enquanto as gravações estavam sendo reproduzidas. Foi assim que a equipe de pesquisadores conseguiu identificar quais regiões do cérebro processavam mais informações durante o desenrolar do estudo.

mae e filho - neurociencia

“A voz é um dos meios de comunicação social mais importantes”, explicou Menon. “É empolgante ver que a voz da própria mãe reverbera em tantos sistemas cerebrais distintos”.

A partir desses resultados, os pesquisadores pretendem agora realizar estudos semelhantes com crianças com autismo e também com adolescentes, a fim de determinar se há diferenças na maneira como o cérebro desses jovens responde aos sons da voz de familiares.

O estudo – o primeiro a avaliar escaneamentos cerebrais de crianças ouvindo o som da voz de suas mães – foi publicado na última edição online do periódico científico Proceedings of the National Academy of Sciences e foi conduzido por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos.

 

Referência Científica
Abrams, Daniel A. et al. Neural circuits underlying mother’s voice perception predict social communication abilities in children. PNAS, 16 de maio de 2016.

 


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