Aplicativo pode ‘prever’ crises depressivas e transtorno bipolar


prevenindo a depressao pelo smartphone
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Pesquisadores desenvolvem aplicativo para smartphones que ‘prevê’ episódios de distúrbios neurológicos, ajudando as pessoas a se prevenirem.

19 de junho de 2017     Por Redação WebContent

 

Ao andar pelas ruas, pegar ônibus ou metrô, passear por praças e shopping centers, ao entrar em um restaurante, tomar um café… não importa o local, há um pequeno item que certamente fará parte do cenário: o smartphone.

É cada vez mais difícil encontrar quem não dedique vários minutos do dia ao aparelhinho. Acessar sites, checar o e-mail, entrar nas redes sociais, participar de chats, usar aplicativos de mensagens – tudo isso já é rotina diária para os mais de 100 milhões de brasileiros que possuem um celular com acesso à internet.

O brasileiro passa mais de 3 horas  e 14 minutos por dia de olhos grudados na telinha do telefone, segundo pesquisa da Millward Brown Brasil e da NetQuest divulgada ano passado.

Durante este tempo todo de uso, o usuário acaba criando certas tendências. A velocidade com que digita as mensagens e o uso ou não do auto corretor, por exemplo, acabam se tornando características de cada um. Agora, um novo aplicativo pretende medir justamente estes parâmetros com um intuito salutar: ajudar as pessoas a superar problemas neurológicos como a depressão e o transtorno bipolar.

 

UM APP PARA PREVENIR DISTÚRBIOS NEUROLÓGICOS

logo aplicativo biaffect neurologiaA novidade se chama BiAffect, e é um aplicativo em desenvolvimento por uma dupla de psiquiatras da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos.

O conceito do app surgiu após o filho de 24 anos de um dos pesquisadores ser diagnosticado com transtorno bipolar, um problema cerebral que causa alterações no humor, na personalidade, nos níveis de energia e de atividade.

“Como qualquer outro parente ou pai, eu tentei ajudar meu filho”, conta o psiquiatra Peter Nelson.

os pesquisadores Peter Nelson e Alex Leow

Os psiquiatras Peter Nelson (à direita), professor de ciência da computação na Faculdade de Engenharia da Universidade de Chicago, e Alex Leow, professora associada de psiquiatria na Faculdade de Medicina da Univ. de Chicago e professora associada de bioengenharia e ciências da computação – desenvolvedores do BiAffect.

 

Para isso, ele e sua colega psiquiatra Alex Leow uniram um time de cientistas com uma missão: elaborar uma maneira de prever a ocorrência de episódios de bipolaridade ou de outras disfunções neurológicas, como a depressão. A ideia é que, se a pessoa for alertada de que está sofrendo alterações de comportamento, poderá procurar ajuda com rapidez e, assim, minimizar os efeitos da crise.

E que maneira melhor de prever algum desses fatores do que analisando os dados de um aparelhinho que já faz parte do dia a dia da maioria das pessoas – e que sabe tantas coisas sobre nós?

 

COMO FUNCIONA O APLICATIVO?

aplicativo biaffect em funcionamento

O BiAffect em funcionamento: monitorando diversos parâmetros da digitação no telefone, como o período do dia em que as ‘tecladas’ são feitas, para prever distúrbios neurológicos.

Assim surgiu o projeto do BiAffect, um aplicativo que ficará rodando em segundo plano nos smartphones e registrará diversos padrões de digitação do usuário. A velocidade com que digita, o tamanho das palavras utilizadas e o uso de autocorretores ou do botão ‘backspace’, por exemplo, serão métricas analisadas pelo algoritmo.

Apesar de não “ler” as mensagens dos usuários, o app registrará os padrões de atividade, buscando encontrar indícios de problemas neurológicos.

Um usuário que começar a digitar mais rápido que o normal e que não corrigir a grafia das palavras poderá estar mais propenso a ter um episódio maníaco, de alta excitação, por exemplo. Essa conclusão é baseada em Ciência. Um estudo anterior do mesmo grupo de pesquisadores correlacionou a depressão à digitação mais lenta de mensagens, e episódios maníacos ao menor uso de auto corretores ortográficos nos smartphones.

É claro que nem sempre padrões de digitação “estranhos” podem ser relacionados a distúrbios neurológicos. Cada pessoa é diferente, e um mesmo parâmetro de análise dificilmente valerá para todos. Os cientistas estão levando estes conceitos em consideração ao desenvolver o aplicativo, e esperam que um número alto de usuários ajudará a encontrar padrões universais, que funcionem com a maioria das pessoas. “Todas as pessoas são diferentes, e isso é o que torna fascinante o comportamento humano”, afirma Alex Leow, co-autora do estudo.

 

$200 MIL INVESTIDOS NO DESENVOLVIMENTO

O app BiAffect foi o recente vencedor da premiação ‘Desafio do Humor’ da Fundação Robert Wood Johnson. Foram 200 mil dólares de prêmio, investidos integralmente no desenvolvimento do programa.

“O diagnóstico e o tratamento do transtorno bipolar, hoje, necessitam de uma análise cuidadosa por um médico, além de questionários completados pelo paciente ou seu cuidador. Usar esses métodos para predizer uma mudança iminente no humor não é, no geral, uma abordagem eficiente. O BiAffect visa a melhorar o processo ao identificar biomarcadores virtuais na saúde mental de quem convive com a bipolaridade. O app fará isso de maneira não-invasiva, estudando a comunicação não-verbal no smartphone, além de coletar dados passivos e de questionários”, diz o comunicado à imprensa da Fundação Robert Johnson.

Usuários interessados em participar do projeto e ter acesso a versões preliminares podem se cadastrar no site www.biaffect.com (em inglês). Estima-se o lançamento para o sistema iOS até o final deste ano.


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