Histórias de Sucesso – Luz para Enxergar ‘Dentro’ do Cérebro


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09 de Novembro de 2015     Por Redação WebContent

O paciente está internado há alguns dias no Hospital das Clínicas da Unicamp. Ele sofreu um Acidente Vascular Cerebral, ou AVC, popularmente conhecido como “derrame”. Os médicos, depois de realizaram os tratamentos iniciais, estão agora acompanhando seu progresso. Será que o AVC afetou o cérebro do homem? Será que as funções cognitivas estão intactas? Para descobrir, a equipe médica aplica questionários e faz diversos testes –  como por exemplo pedir para que o homem mexa os braços e as pernas.

Apesar de eficientes, todas as tentativas de entender as consequências do AVC são indiretas. Os médicos ainda não conseguem acompanhar diretamente o que está acontecendo na região mais importante do corpo quando o assunto é acidente vascular cerebral – o cérebro.

“Até hoje, medir o fluxo sanguíneo em pacientes de AVC é um problema não resolvido”, diz Rickson Mesquita, pesquisador do Grupo de Neurofísica (GNF) da Unicamp e membro do BRAINN. Ele e seu grupo de pesquisa buscam uma resposta para esse problema; uma resposta que já está sendo elaborada com um dispositivo único no Brasil e que pode chegar à fase de testes clínicos ainda esse ano.

EQUIPAMENTO PERMITE “VER” O QUE ACONTECE NO CÉREBRO, MESMO DO LADO DE FORA

O QUE É LUZ NO INFRAVERMELHO PRÓXIMO?

A luz é uma onda eletromagnética. A luz que conseguimos ver, e que chamamos por nomes de “cores”, é uma pequena parte de um grande espectro eletromagnético que inclui, por exemplo, raios-X e ondas de rádio.

A diferença entre o que conseguimos ver e o que não conseguimos ver é o comprimento de onda. Nós conseguimos enxergar a parte do espectro que fica, aproximadamente, entre 400 e 700 nanômetros (nm) de comprimento (um nanômetro é um metro dividido em um bilhão de partes).

A cor vermelha tem um comprimento de onda por volta de 700nm. O infravermelho próximo é chamado assim porque tem um comprimento de onda um pouco maior, entre 700 e 900nm – por isso, não conseguimos enxergá-la.

Para ajudar a diagnosticas pacientes que sofreram um AVC, Mesquita desenvolve tecnologias baseadas em luz no infravermelho próximo. De maneira simplificada, a luz no infravermelho próximo consegue atravessar a pele e o crânio e interage com as moléculas de hemoglobina no nosso sangue. Isto é importante, pois a hemoglobina é a responsável por levar oxigênio para todo o nosso corpo. Portanto, onde há hemoglobina, há oxigênio.

Sabendo disto, a ideia de Mesquita foi desenvolver um pequeno aparelho com lasers de luz infravermelha e detectores, a fim de utilizá-lo na prática médica.

Funciona assim: a luz é emitida pelo aparelho, entra em nosso corpo, interage com a hemoglobina e volta para o detector. Entretanto, a intensidade da luz que volta é diferente da intensidade da luz original – a intensidade depende da quantidade de hemoglobina com a qual interagiu. Olhando para a diferença entre luz emitida e luz detectada, portanto, é possível inferir a presença de hemoglobina – e, consequentemente, de oxigênio – na região em análise.

“O dispositivo que desenvolvemos é o primeiro no Brasil capaz de medir o fluxo de sangue na microvasculatura cerebral”, afirma Mesquita. “A grande vantagem dele em relação ao acompanhamento feito atualmente em leitos médicos é que podemos enxergar, em tempo real, o que está acontecendo no cérebro de pacientes que sofreram um AVC”.

“Podemos ver, por exemplo, se o cérebro de pacientes de AVCs isquêmicos estão recebendo sangue e oxigênio corretamente”, explica o pesquisador. “Além disso, é possível individualizar os tratamentos de acordo com as características específicas de cada paciente que estamos observando”.

O projeto, que começou em 2013, teve seus primeiros resultados no final de 2014. Os testes foram feitos em voluntários saudáveis e confirmaram a precisão do equipamento. Agora, o próximo passo é levar a ideia para os hospitais e acompanhar pacientes de AVC.

“Nossa expectativa é começar estudos clínicos ainda este ano”, diz Mesquita.

espectro eletromagnetico

A luz que enxergamos é apenas parte do espectro eletromagnético. Note, na imagem acima, a faixa do infravermelho.

TECNOLOGIA PARA ESTUDAR CÉREBROS SAUDÁVEIS   

O dispositivo desenvolvido por Mesquita e seu grupo pode ser utilizado também para estudar cérebros saudáveis. Exemplo disso é sua aplicação nas pesquisas de redes cerebrais, nas quais o objetivo é entender como as diferentes regiões do cérebro estão conectadas. A função do dispositivo é ajudar na visualização de quais estruturas do cérebro ficam ativas com determinadas atividades e estímulos, pois elas têm maior fluxo sanguíneo e consomem mais oxigênio em relação às regiões não envolvidas nos processos.

“A utilização de dispositivos ópticos para estudos de redes cerebrais cresceu nos últimos cinco anos”, explica Mesquita. “Eles possuem vantagens sobre a ressonância magnética, que também pode ser utilizada com essa finalidade. Dispositivos ópticos são mais práticos, portáteis e permitem a realização de exames com pacientes em pé e em situações mais naturais”.

equipamento Rickson Brainn

O QUE É O AVC? QUAIS SÃO OS TIPOS?
O Acidente Vascular Cerebral (AVC), como o próprio nome diz, é um acidente nos vasos sanguíneos do cérebro. Esse acidente pode ser de dois tipos diferentes:

O AVC isquêmico ocorre quando uma região do cérebro pára de receber sangue. Nesse caso, o vaso sanguíneo pode estar bloqueado, impedindo o fluxo sangüíneo e de oxigênio.

O AVC hemorrágico ocorre quando um vaso sanguíneo, dentro do cérebro, se rompe, causando extravasamento de sangue e inchaço naquela região.

O AVC é a principal causa de mortes e incapacidades no Brasil. Quem sofre um AVC, independentemente do tipo, precisa de cuidados imediatos para diminuir as chances de sequelas. Alguns dos principais sintomas do AVC são: paralisia de um lado do corpo ou do rosto, dificuldade para andar, alteração da fala e da compreensão da linguagem, alteração da visão e desvio da boca para um lado do rosto. Se notar esses sintomas, peça ajuda imediatamente!