Jornal da UNICAMP: Linha de pesquisa busca novas formas de tratamento e prevenção da epilepsia


CEPID BRAINN - Jornal da Unicamp - Materia Epilepsia com Fernando Cendes e Iscia Lopes-Cendes - capa
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Reportagem entrevistou os pesquisadores do BRAINN Fernando Cendes e Íscia Lopes-Cendes sobre as diversas linhas de pesquisa do CEPID focadas na epilepsia. Confira.

 

A edição nº 727 do Jornal da UNICAMP dedicou suas páginas iniciais à exploração das diversas linhas de pesquisa do CEPID BRAINN sobre epilepsia (e comorbidades correlacionadas). São estudos conduzidos há anos pelos pesquisadores do CEPID, com amplo impacto acadêmico e prático na compreensão das variantes da condição. A cada ano, estes estudos impulsionam o conhecimento, auxiliam o desenvolvimento de tecnologias e trazem novos detalhes que ajudam os pesquisadores a abrir caminhos terapêuticos.

Confira a seguir um resumo da matéria, incluindo entrevistas com os pesquisadores Fernando Cendes e Iscia Lopes-Cendes, ambos do BRAINN. Leia o texto completo aqui (link também ao final do texto).

CEPID BRAINN - Jornal da Unicamp - Materia Epilepsia com Fernando Cendes e Iscia Lopes-Cendes - paginas
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“Cerca de 70% dos pacientes com epilepsia de lobo temporal que são operados ficam livres de crises para o resto da vida ou por um período de 20 ou 30 anos”, afirmou o médico neurologista Fernando Cendes, docente na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. “O problema é que, para a cirurgia, faz-se necessário antes identificar o foco da doença e garantir que o procedimento não causará ainda mais déficits para o paciente. Então, algumas formas de epilepsia não podem ser tratadas pela via cirúrgica.”

Pensando em encontrar soluções para esse tipo de condição, o Instituto Brasileiro de Neurociência e Neurotecnologia (Brainn, na sigla em inglês) da Unicamp dedicou uma de suas linhas de pesquisa às epilepsias. Coordenado por Cendes, o Brainn, um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), tem como principal objetivo buscar novas formas de tratamento e prevenção para doenças cerebrais debilitantes, como o Alzheimer, o acidente vascular cerebral (AVC) e a epilepsia.

No caso desta última, o instituto coleta, organiza e analisa uma série de dados clínicos, genéticos e de imagem de pacientes com e sem a doença atendidos no Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp, reunindo informações que auxiliem a responder questões ainda em aberto. Espera-se que essa melhor compreensão sobre o quadro epiléptico possibilite desenvolver tecnologias de apoio aos pacientes, como algoritmos capazes de prever as crises com alguns minutos de antecedência, além de terapias individualizadas.

 

Alterações genéticas

Entre os principais desafios enfrentados pelo Brainn figura o de descobrir por que algumas pessoas reagem bem aos medicamentos enquanto outras, não.

Em 2017, um artigo publicado pelos pesquisadores do instituto levantou indícios de que fatores genéticos poderiam estar envolvidos nessa resposta aos medicamentos – uma resposta determinada por genes responsáveis por metabolizar e transportar as substâncias medicamentosas.

No caso das displasias corticais focais, uma malformação ocorrida durante o desenvolvimento do feto que representa a principal causa de epilepsia focal grave em crianças, o empecilho está na quantidade de medicação necessária para interromper as crises. Ao contrário da maior parte das epilepsias, apenas 10% dos pacientes com essa displasia respondem bem aos fármacos porque essas medicações provocam mudanças nas atividades neuronais. Grandes quantidades de remédio poderiam causar efeitos adversos graves, não sendo tolerados pelos pacientes.

De acordo com a médica geneticista Iscia Lopes-Cendes, que também atua no Brainn, o problema agrava-se porque esse tipo de lesão pode ser bastante extensa ou estar próxima de áreas muito eloquentes. Retirar todo o circuito relacionado à doença resultaria em eventuais danos a funções essenciais como visão, audição e fala.

Por esse motivo, no Laboratório de Genética Molecular (LGM) da FCM, Lopes-Cendes lidera estudos sobre a genética das epilepsias de difícil tratamento, procurando mapear a rede de alterações moleculares que provocam essas doenças. No caso das epilepsias monogênicas, avanços nos últimos dez anos já permitiram identificar os fatores envolvidos.

Um avanço nesses estudos ocorreu em 2022, quando Lopes-Cendes orientou uma tese conduzida pela neurocientista Simoni Avansini. Nesse estudo, os pesquisadores criaram o primeiro modelo de displasia cortical focal em minicérebros humanos. Essas estruturas, que possuem o tamanho de uma ervilha, consistem em pequenos “organoides” tridimensionais cultivados a partir de células-tronco de pacientes, reproduzindo aspectos específicos da organização e do funcionamento do cérebro humano.

Veja também:

Estudo utilizando modelo humano de displasia cortical focal é publicado na revista ‘Brain’

Pacientes brasileiros

Como fruto dessas pesquisas, o LGM conta hoje com um extenso banco de tecidos, o que tem permitido a participação do grupo em grandes consórcios internacionais. Em 2023, por exemplo, a equipe contribuiu para um artigo, publicado na revista Nature, que analisou cerca de 80 mil dados genéticos de pessoas com e sem epilepsia, demonstrando quantos e quais são os locais no genoma com predisposição para a epilepsia generalizada – que afeta os dois hemisférios do cérebro.

Já que a maioria das pesquisas genéticas sobre epilepsias no mundo utiliza apenas dados de participantes europeus, a colaboração nesse tipo de empreendimento traz informações relevantes sobre a variabilidade genética de outras populações. “Os pacientes brasileiros são miscigenados e, quando isso acontece, o genoma parece um mosaico. Isso pode induzir a resultados errôneos na análise do genoma se os dados forem comparados com grupos de controle de outras etnias”, observou Lopes-Cedes.

Por esse motivo, os cientistas criaram a Iniciativa Brasileira de Medicina de Precisão (Bipmed, na sigla em inglês), uma colaboração do Brainn com outros quatro Cepids para recolher e disponibilizar em uma plataforma dados genéticos e clínicos úteis para pesquisas sobre a arquitetura genômica de brasileiros. Pretende-se que esses dados contribuam para o desenvolvimento de tratamentos personalizados, atendendo às necessidades individuais de cada paciente.

 

Leia a matéria completa no site do JU

 


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