Realidade Virtual e Aumentada no tratamento de sequelas de AVC


o mundo virtual e a medicina - Brainn Blog
Compartilhe! / Share this!

Pesquisadores querem entender como o cérebro reage à utilização de Realidade Virtual e Aumentada como estímulos terapêuticos.

28 de Abril de 2016

por Erik Nardini Medina *

 

Imagine: um paciente com um braço paralisado em consequência de um Derrame (AVC) tem sua imagem capturada por uma câmera e transmitida a um computador. Um software então analisa o corpo do paciente e “substitui” o membro sem movimento por um braço saudável, criado virtualmente pela chamada realidade aumentada. Demais, não?

Pode parecer ficção científica, mas pesquisas como está já estão acontecendo. Inclusive no Brasil. O BRAINN – Instituto Brasileiro de Neurociência e Neurotecnologia – é um dos centros de referência nessa área. Pesquisadores do instituto estudam o uso de tecnologia de ponta para auxiliar na recuperação de quem sofreu um AVC.

 

OS NÚMEROS DO AVC NO BRASIL

O Acidente Vascular Cerebral (AVC), também conhecido como Derrame, é a doença que mais mata no Brasil. Segundo dados do Ministério da Saúde, o número de mortes por AVC chega a quase 100 mil pessoas todos os anos!

Em 2000 foram 84.713 óbitos, atingindo um pico de 99.726 em 2010. Quando a vítima não chega ao óbito, não raramente termina com sequelas graves e limitadoras – comprometendo movimentos de alguns membros ou de todo o corpo.

 

COMO TRATAR O AVC?

Apesar dos números assustadores, há motivos para se animar. Os tratamentos para quem já sofreu AVC têm evoluído bastante nos últimos anos!

Para além do campo das medicações – cuja administração normalmente se dá apenas no período em que o paciente se encontra hospitalizado – as sessões de fisioterapia são prescritas por tempo indeterminado. E é aí que pacientes e fisioterapeutas encontram o apoio das tecnologias associadas à Realidade Virtual (RV) e à Realidade Aumentada (RA)!

  

PESQUISAS FEITAS NO BRAINN

Estudos pioneiros dessas duas aplicações têm sido conduzidos BRAINN sob supervisão de Gabriela Castellano, professora associada do Instituto de Física “Gleb Wataghin” da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenadora de difusão do Instituto.

Os projetos, ainda em fase inicial, adotam estratégias que visam estimular a coordenação dos pacientes, transformando os exercícios em atividades mais divertidas.

ANTES DE JUNHO: uma série de testes com RA e RV começará a ser aplicada em pacientes do Serviço de Reabilitação Lucy Montoro, centro de referência situado em Mogi Mirim, no interior de São Paulo.

A unidade, que é ligada ao Instituto de Responsabilidade Social do Hospital Sírio-Libanês, atende desde os casos mais simples, de mobilidade reduzida, até casos de alta complexidade, como lesão medular e amputação.

 

ENTENDA DE UMA VEZ: DIFERENÇAS ENTRE REALIDADE VIRTUAL E AUMENTADA 

o advento da realidade virtual

Vivemos o advento da Realidade Virtual. Além dos aspectos lúdicos, ela será importantíssima para diversos tratamentos médicos.

Nos estudos conduzidos pelo BRAINN, duas tecnologias assistivas têm destaque: a realidade virtual e a realidade aumentada. Você conhece a diferença entre elas?

Realidade Virtual: é aquela em que o sujeito se insere numa interface em três dimensões (3D) e participa de determinado cenário, ou seja, seus movimentos são reproduzidos dentro de um ambiente fictício.

As atividades desenvolvidas em RV são feitas com auxílio do sensor de movimentos Kinect – o mesmo utilizado nos videogames Xbox. “Nesse caso, a pessoa manipula objetos no vídeo por meio de gestos. Às vezes, o paciente comanda um avatar dele mesmo na tela, que reproduz no espaço virtual seus movimentos no espaço real”, explica Gabriela Castellano.

Realidade Aumentada: os elementos 3D podem ser “inseridos no mundo real”. Para ilustrar, podemos analisar as instituições financeiras. Bancos se utilizam da RA, por exemplo, para a busca de agências na cidade. Ao apontar a câmera do celular para determinada posição, o aplicativo insere na tela elementos visuais dentro da imagem real captada pela câmera do celular. É o fictício que se apresenta no plano concreto.

“O foco, no âmbito da RA, concentra-se em pacientes com limitação de movimentos nos braços”, explica Castellano. “Uma câmera captura a imagem do paciente e transmite para um computador. O software então analisa o corpo do paciente e ‘substitui’ o membro sem movimento por um braço na forma de realidade aumentada”, continua. 

 

NEUROPLASTICIDADE

realidade virtual no tratamento de problemas de saúde

A RV já é utilizada há alguns anos para ajudar na recuperação de soldados feridos em combate, por exemplo.

Os projetos querem avaliar os possíveis efeitos de neuroplasticidade, que é a capacidade do sistema nervoso se adaptar, a nível estrutural e funcional, quando submetido a novas experiências. “Queremos entender a evolução do sistema nervoso em decorrência da utilização destes aplicativos na reabilitação motora”, conta Castellano.

“Com o avanço das pesquisas poderemos comparar os resultados de uma reabilitação suportada por RA e RV com os resultados obtidos na reabilitação ‘convencional’”, conclui.

Com a ajuda da Ciência e da alta tecnologia, as equipes de saúde já são capazes de tratar as sequelas dos AVCs com maior cuidado e eficiência. Essa parceria trará frutos ainda mais incríveis nos próximos anos, quando técnicas como a Realidade Virtual e a Realidade Aumentada forem aperfeiçoadas e entrarem de vez na rotina médica. Com isso, as sequelas do derrame poderão deixar de debilitar milhares de pessoas todos os anos, no Brasil e no mundo.

 

* Jornalista formado pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), aluno da especialização em Jornalismo Científico do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor/Unicamp). É bolsista MídiaCiência/FAPESP.

 


Compartilhe! / Share this!