Epilepsia: Causas e Tratamentos na Mira dos Pesquisadores


pesquisas epilepsia fernando cendes

9 de Novembro de 2015     Por Redação WebContent

Os ambulatórios do Hospital das Clínicas (HC) da Unicamp atendem, todas as semanas, em torno de 80 a 100 pacientes adultos e mais 60 crianças.

Dentre as diversas pesquisas do BRAINN, destacam-se as linhas de estudo que buscam compreender melhor e tratar a epilepsia. Essa condição neurológica afeta cerca de 1% da população mundial – no Brasil, dados do Ministério da Saúde em 2013 apontam 228 casos a cada 100 mil habitantes. É um número alto de pessoas que convivem com uma condição tratável, porém ainda sem cura, e que pode desencadear crises convulsivas a qualquer momento. Por isso, pesquisas nessa área são urgentes e extremamente importantes.

“Tentamos entender a epilepsia sob vários aspectos”, diz Fernando Cendes, pesquisador responsável pelo CEPID. “Exemplos de nossas pesquisas incluem estudar como a doença avança com o tempo, qual a relação entre ela e alterações cognitivas (como de memória) e, principalmente, por que alguns pacientes respondem a remédios e outros não”.

EPILEPSIA: O QUE É? QUAIS SÃO AS CAUSAS?

A epilepsia ocorre quando um conjunto de células do cérebro se comporta de maneira hiperexcitável – ou seja, ficam muito ativas. Quando isso acontece, os sinais elétricos desta região tornam-se desorganizados, e isso pode levar a crises epiléticas.

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O cientista Fernando Cendes, pesquisador responsável pelo CEPID BRAINN.

Há dezenas de tipos diferentes de epilepsias e vários fatores que podem causá-las, tanto genéticos quanto ambientais. No caso dos fatores genéticos, eles podem ser hereditários (isto é, vir de família) ou não. Às vezes, infecções, medicações, radiação e outros fatores podem levar a alterações genéticas (não hereditárias) que causam epilepsia. Causas ambientais, como traumas na cabeça, também podem iniciar o desenvolvimento da doença.

Assim como há diferentes tipos de epilepsias, há diferentes tipos de crises epilépticas. A mais comum é a convulsão.

“A epileptogênese (processo de desenvolvimento da epilepsia) é muito complexa e varia de pessoa pra pessoa”, explica Cendes. “O tipo de epilepsia depende das características da lesão, da região do cérebro onde ela ocorreu, da idade do paciente, dentre outros fatores”.

“Mesmo duas pessoas de mesma idade, que sofrem a mesma lesão, podem reagir de formas completamente diferentes”, explicou o neurocientista.

TRATAMENTOS – BRASIL É REFERÊNCIA NO CAMPO CIRÚRGICO

Frente à variedade de “tipos” de epilepsia que existem, não há um tratamento único, padrão, para todos eles. A condição pode ser tratada com medicamentos ou cirurgia. Cendes explica que cerca de 70% das pessoas respondem bem aos tratamentos com remédios e, através deles, conseguem controlar as crises. Uma das principais perguntas que o pesquisador e seu grupo tentam responder é por que os outros 30% não têm resultados satisfatórios apenas com medicamentos.

Linhas de estudo buscam por fatores genéticos, fazendo exames de DNA e análises do tecido cerebral. Mas os resultados ainda levam tempo. No caso da maior parte desses pacientes, uma opção mais imediata é a cirurgia para a remoção do conjunto de células do cérebro responsáveis pelas crises.

A cirurgia para epilepsia

Por se tratar de uma cirurgia invasiva, que mexe diretamente na estrutura do cérebro, dezenas de exames prévios precisam ser feitos e vários critérios preenchidos. O primeiro deles é o paciente não responder aos tratamentos com remédios. Caso isso aconteça, serão feitos exames de neuroimagem, como Ressonância Magnética e Ressonância Magnética Funcional, que irão mostrar onde está a lesão no cérebro responsável pelas crises.

Para se fazer uma cirurgia, é necessário que a região afetada seja bem localizada e bem delimitada pelos exames. Além disso, é fundamental analisar se a retirada desta área do cérebro não causará nenhum tipo de dano cognitivo ao paciente – ou seja, se ele não irá apresentar problemas de memória, linguagem ou de qualquer outro tipo após a intervenção.

purple day epilepsia na unicamp

Além de realizar pesquisas de ponta sobre a epilepsia, o BRAINN ainda organiza projetos de conscientização. Um exemplo é o Purple Day, data na qual monumentos são iluminados de roxo – cor da epilepsia – em todo o mundo.

“Buscamos o maior conjunto de informações possível antes de se fazer uma cirurgia”, afirma Cendes. “Caso uma intervenção cirúrgica seja recomendada, estamos em um lugar privilegiado para isso. O Brasil, como um todo, está muito à frente de qualquer outro país na América Latina nesta área. Aqui no HC da Unicamp temos um ótimo programa de cirurgia de epilepsia”.

“Fazemos, em média, uma cirurgia por semana. No próximo mês, completaremos 500 cirurgias feitas. E, após o procedimento, cerca de 70% dos nossos pacientes ficam livre de crises, uma taxa de sucesso de padrão internacional”, conta o pesquisador.

LINHAS DE PESQUISA PARA ENTENDER A FUNDO A EPILEPSIA

Além de estudar o que leva uma pessoa a desenvolver a epilepsia, os pesquisadores do BRAINN também adotam uma abordagem preventiva. No caso, tentam descobrir novos biomarcadores para a doença.

Biomarcadores são fatores cuja presença varia no organismo de acordo com a existência ou ausência de uma doença. Uma vez identificados, eles podem ajudar a prever, por exemplo, se um paciente terá uma resposta boa ou ruim a um remédio, ou se valeria a pena realizar um tratamento cirúrgico. Com isto, há a possibilidade de evitar cirurgias com uma probabilidade de sucesso muito baixa. “Procuramos biomarcadores de diversos tipos – podem ser moleculares, relacionados a imagens cerebrais ou de qualquer dado quantitativo”, diz Cendes.

Como a imprevisibilidade das crises é um dos piores fatores para quem tem epilepsia e pode causar sérios acidentes, outra linha de pesquisa do BRAINN também busca desenvolver algoritmos capazes de prever crises com minutos ou segundos de antecedência.

O QUE FAZER DURANTE UMA CONVULSÃO?
Caso você presencie uma pessoa com epilepsia tendo uma convulsão, a primeira coisa a se fazer é manter a calma. A crise normalmente passará espontaneamente em poucos segundos ou minutos. Durante esse tempo, dê suporte à cabeça da pessoa, para que ela não se machuque, e vire-a de lado para evitar que ela engasgue com a própria saliva.

Se a crise não parar em cinco minutos, é importante levá-la ao médico.

 

A epilepsia é um dos principais temas das pesquisas do BRAINN. Os cientistas do grupo utilizam técnicas no estado da arte para revelar maiores detalhes sobre todas as facetas da doença, desde seu surgimento até a progressão e tratamentos. E – como se não bastasse – ainda atuam ativamente na melhora da vida dos pacientes, fornecendo tratamento médico da mais alta qualidade à população.

Saiba mais sobre epilepsia assistindo aos vídeos da TV ABCérebro, produzido pelo pesquisador do BRAINN e embaixador da epilepsia no Brasil, Dr. Li Li Min.